A segunda edição da revista Aurora expande a proposta de analisar o cinema brasileiro. Dessa vez, além dos redatores, cinco convidados trazem suas perspectivas sobre o tema em questão: o cinema brasileiro de humor. Inclusive, debater as comédias é uma questão espinhosa. Por um lado, é, de forma geral, o motivo de levar o grande público para as salas de cinema para assistir filmes brasileiros. Por outro, os filmes de humor são tradicionalmente questionados pela crítica e pouco trabalhados na academia. Dessa maneira, diversas obras não são analisadas ou pensadas e ficam obliteradas na história do cinema brasileiro.
Para esta edição, os textos foram divididos em três blocos temporais com a intenção de trazer um cenário amplo sobre as comédias. O primeiro bloco, faz um exame sobre as comédias nacionais dos anos de 1950. Hernani Heffner inicia a sequência com um panorama geral das chanchadas. Lucas Reis, uma análise de De Vento em Pôpa (Carlos Manga, 1958) destacando a direção de uma das chanchadas mais instigantes. Por último, Luciane Carvalho resgata Nadando em Dinheiro (Abílio Pereira de Almeida e Carlos Thiré, 1953) e o importante trabalho de Mazzaropi, figura central, contudo, pouco valorizada no cinema brasileiro.
O segundo bloco, começa com o texto de João Luiz Vieira publicado em 1983, Este é meu, é seu, é nosso, que avalia as paródias no cinema brasileiro, especialmente à época de produção do ensaio. Logo em seguida, Adriano Del Duca destrincha Brasil Ano 2000 (Walter Lima Jr., 1969) e destaca uma importação de características “chanchadescas” na comédia cinemanovista. Há também o texto de Lucas Reis sobre Transplante de Mãe (Sebastião de Souza, 1970) em que características da esculhambação marginal são exploradas. Bruno Ribeiro analisa a comédia gaúcha Um é Pouco, Dois é Bom (Odilon Lopez, 1970) e a carreira do realizador, terceiro homem negro a dirigir um filme no Brasil. Igor Guimarães destaca o polêmico Xica da Silva (Cacá Diegues, 1976), a sua representação da negritude e a recepção da obra na época. Por fim, Matheus Strelow faz uma ode ao “cinema de buteco” de David Neves através de Fulaninha (1986).
O terceiro bloco abre com um artigo de Rodrigo Bouillet sobre a figura do malandro nas comédias contemporâneas de maior bilheteria. Fátima Luiza apresenta Cine Holliúdy (Halder Gomes, 2012) e o preconceito linguístico que houve na época de lançamento do filme. Andréia Lima faz um intenso panorama da produção de Muleque Té Doido (Erlanes Duarte, 2014) e a importância da obra para o cinema do Maranhão. Por último, Lucas Reis faz uma carta ao Brasil atual inspirado por Não Vamos Pagar Nada (João Fonseca, 2020) e a situação social que atravessamos.
Os treze textos publicados na atual edição são um esforço da Revista Aurora para propor novas ideias e caminhos para o Cinema Brasileiro de Humor. A discussão, certamente, não se encerra por aqui, e o presente número é, antes de tudo, um desejo de que as discussões sobre as comédias brasileiras continuem vivas. Da nossa parte, o riso está garantido.